Exibição personalizada e matizes de classe justificam vitória justíssima no Restelo. Lucas Silva bisou e foi eleito Homem do Jogo
Reencontro que se saúda entre históricos do futebol português, embora habituados a confrontos na elite do futebol português. O Marítimo, 6 anos depois, regressou ao Restelo para defrontar o CF ‘Os Belenenses’, a estreia absoluta de confrontos na divisão secundária, depois de 75 duelos na Primeira. Com o Leão do Almirante Reis, a habitual escolta do Maritimismo que rumou a Belém em busca de continuar a perseguir horizontes auspiciosos. Desta vez, mais de 400 peregrinos verde-rubros que continuam a dizer aos quatro ventos: navegar é preciso.
Tulipa – ausente do banco por castigo – introduziu uma alteração no “onze”. Igor Julião, expulso em momentos de balbúrdia, foi rendido por Tomás Domingos. Portanto, Samu na baliza, laterais ocupadas por Tomás Domingos e Vítor Costa, Dylan e Matheus no centro da defesa, Noah e Diogo Mendes entre os centrais e Xadas, com Cann e Lucas nas alas. Na frente, Platiny.
Primeiros minutos com posse de bola para o Marítimo, perante um Belenenses expectante. Circulação em busca de brechas no fechado último reduto do Restelo, com Cann a aparecer entre linhas num apoio mais próximo a Xadas. O perfume de Cann revelou-se logo aos 6 minutos, com o ganês a rodopiar, libertando-se da marcação e a tentar isolar Platiny, embora Tomás Domingos também ameaçasse a fuga pela direita. Perdeu-se a oportunidade, ficou a intenção. O Belenenses respondeu aos 7 minutos com um tenso cruzamento da direita que assustou Samu, mas o cabeceamento não surgiu. Depois, foi Xadas, por duas vezes, a protagonizar perigo. Primeiro, André Serra evitou o “passe de morte” de Xadas para Platiny. Insistiu o Marítimo, Xadas recuperou, simulou o remate, invadiu a área e tirou cruzamento tenso, de novo para Platiny, mas a defensiva “azul”, em apuros, rechaçou.
O Marítiimo acossava e Xadas, numa recuperação de bola, sofreu falta. A execução pertenceu a Tomás Domingos, mas o passe para Platiny saiu demasiado forte. Jogava bem o Marítimo. Aos 12, a bola passou pelos pés de quase toda a equipa verde-rubra, chegou ao flanco direito, Tomás Domingos encontrou Xadas e o Capitão, já em desequilíbrio, não conseguiu alvejar as redes do Restelo. Notável dinâmica ofensiva do Marítimo, sempre com muito critério na procura de caminhos para içar velas e fugir.
O Belenenses ameaçou aos 14, mas valeu o corte de Dylan ao primeiro poste. Os jogadores azuis reclamaram mão na bola, sem razão. Ainda houve um compasso de espera…. Primeiro canto para a equipa anfitriã, sem perigo. Aos 17, recital de Lucas Silva a ultrapassar tudo e todos, assistindo Platiny e, após devolução, o extremo não conseguiu desviar por centímetros. A melhor oportunidade de golo. Que arrancada de Lucas Silva, que generosidade de Platiny. Merecia a felicidade o Marítimo.
O Belenenses arriscava na pressão – muito – alta. Aos 22 minutos, 5 homens tentavam condicionar a primeira fase de construção. Batida a resistência, o Marítimo ganhou metros sem resistência, a bola chegou a Tomás Domingos, mas o cruzamento não foi perfeito. Poderia ter aproveitado o Marítimo para invadir a área caseira, numa altura em que havia igualdade numérica. O Belenenses reincidia na pressão junto de Samu, o Marítimo não desarmava e saía com critério. Xadas, aos 25, testou a meia distância, depois de conquistado o espaço que o Belenenses perdeu. Defesa de recurso do guardião David Grilo para canto. Na sequência da bola parada, novos apuros para os locais, a bola sobrou para Noah que, à meia-volta, rematou muito por cima. Novo alerta para a navegação. Os Marítimos são especialistas a zarpar.
Continuava o Marítimo a atormentar. Passe a rasgar de Xadas, Platiny cruza uma bola para golo, mas surgiu novo corte providencial para canto. Muito mais Marítimo, empate lisonjeiro para os homens do Restelo à passagem dos 30 minutos. Novo canto para o Marítimo, Noah sem oposição ao segundo poste, desvio no defesa “azul”. Canto do lado oposto, agora à maneira curta, subiram as torres verde-rubras, mas Matheus e Dylan não encontraram o caminho da baliza. Entretanto, pausa técnica para hidratação. Canícula no Restelo.
Logo após a pausa, Cann arrancou pela esquerda, cedeu a Lucas, o brasileiro sentou o adversário, tentou oferecer a Platiny, mas a defesa do Restelo voltou a sacudir. Aos 36, genial golpe de Platiny, após passe “com olhos” de Xadas. O avançado ganhou em velocidade, teceu um “chapéu”, David Grilo limitou-se a ver a bola passar e, com impressionante capricho, a bola saiu a rasar o poste. Depois de tantas ameaças, golo do Marítimo. Com serenidade, os homens de Tulipa foram desmontando a já desgastada defensiva do Restelo, Cann abriu na direita em Tomás Domingos e o lateral português tirou um cruzamento perfeito para o cabeceamento letal de Lucas Silva no coração da área. Grande jogada, grande golo. Justíssima vantagem.
Lucas e Platiny. Saída rápida para o contra-ataque após corte de Matheus, Lucas Silva, de primeira, isola Platiny e o ponta-de-lança só não ampliou a vantagem porque David Grilo fez a defesa da tarde. O Belenenses, sempre muito recolhido, aproveitou um erro do Marítimo na construção e tentou surpreender Samu com um “chapéu”. Atento o luso-francês, aviso para a necessidade de manter a minúcia na posse. Mas os verde-rubros voltaram a errar na saída e aproveitou o Belenenses para ameaçar, outra vez, Samu.
Intervalo no Restelo. Vantagem tangencial do Marítimo. Sem sectarismos, o jogo já poderia estar resolvido, tanta foi a produção atacante do Marítimo, com várias ocasiões para marcar.
Os homens de Tulipa regressaram ao relvado do Restelo sem mexidas. Entrou forte o Marítimo com o primeiro remate a pertencer a Diogo Mendes, após passe longo de Dylan para Lucas que serviu o homem que se prepara para a estreia pela Selecção de Cabo Verde. O tiro de Diogo Mendes sofreu desvio para canto, mas da bola parada nada a registar. Logo depois, Matheus Costa, com um passe longo, procurou Platiny que ganhou o duelo com o central e, por duas vezes, não conseguiu desfeitear David Grilo. O segundo golo do Marítimo esteve iminente. Platiny com muitas queixas após pousar mal o pé quando David Grilo fez a mancha e evitou o golo.
Lucas Silva, endiabrado, voltou a ganhar a linha de fundo, depois de notável passe de Vítor Costa. O extremo procurou Platiny, corte para canto. Insistia o Marítimo, leal ao postulado que Tulipa tem vindo a enfatizar: critério na posse, domínio, gestão dos momentos de jogo, pressão sobre o portador da bola. 54 minutos e o Leão do Almirante Reis, com requinte, voltou a fazer sangrar a presa. Cann encontrou Xadas na esquerda, o português serviu Lucas, o brasileiro simulou o remate, trocou as voltas aos defesas e desferiu um potente remate com o pé esquerdo. Bola no fundo das redes. O Marítimo em vantagem por dois golos. Que grande jogada. Futebol de elevado quilate. Especial apreço para Francis Cann, um motor de busca capaz de encontrar espaços que parecem inexistentes.
Tulipa, aos 60, lançou Euller Silva para o lugar de Francis Cann. Que exibição do “baixinho” que parece omnipresente. O Belenenses, por Keita – acabadinho de entrar -, rematou pela primeira vez na segunda parte. Bom remate de Keita, Samu controlou bem, mas ficou o aviso. Samu, aos 63, foi forçado à primeira intervenção que exigiu esforço acentuado. Bela mancha do guardião a evitar males maiores para as redes verde-rubras.
As substituições efectuadas por Bruno Dias revigoraram os caseiros. Keita evidenciava-se pela direita, exigindo ao Marítimo a máxima atenção para evitar que os anfitriões recuperassem fôlego. Pedro Carvalho e Keita, numa combinação exemplar, bateram linhas de pressão verde-rubras e houve calafrios. Boa saída de Samu, mas o ponta-de-lança do Belenenses estava em posição irregular. Na jogada, Noah lesionou-se na coxa esquerda, impedindo-o de continuar. Tulipa chamou Marcos Silva para render o internacional jovem gaulês.
O Belenenses continuava a crescer, Keita e Pedro Carvalho dialogavam bem e chegavam à linha de fundo. Aos 71, Pedro Carvalho executou um belo cruzamento, mas o perigo diluiu-se quando o Maxwel saltou, mas não alcançou o esférico. Excelente reacção dos anfitriões. E por pouco não marcaram. Após pontapé livre, Maxwel cabeceou ao poste de Samu. 75 minutos, pausa técnica para hidratação muito bem-vinda para o Marítimo.
O Maior das Ilhas voltou a atormentar David Grilo aos 80 minutos, depois de magistral combinação entre Xadas e Lucas Silva. David Grilo evitou o hat-trick de Lucas. Depois, Baraye e Tavares chamados a jogo para os lugares de Xadas e de Platiny. Grandes exibições do maestro e do ponta-de-lança. Braçadeira para Dylan. Lucas Silva, o homem do jogo, também foi rendido. Bica, jovem ponta-de-lança que tem vindo a actuar na equipa B, estreou-se pela principal equipa do Marítimo.
Procurava Tulipa recuperar o critério na posse. Logo nas primeiras intervenções de Baraye e de João Tavares, boa articulação pelo flanco esquerdo, com o senegalês a conquistar a profundidade e a cruzar para o corte aflito dos “azuis”. Depois, Euller tentou o golo antológico, mas a bola passou muito perto do poste. Bica, na sua estreia, isolou-se e teve tudo para assinar o seu primeiro golo pela equipa de honra do Marítimo. No entanto, a finalização não foi a melhor. De qualquer maneira, o jovem internacional português estava em fora-de-jogo.
O árbitro Gonçalo Neves concedeu 11 minutos de compensação. Mais tranquilo, depois daquela fase de maior fulgor dos anfitriões, o Maior das Ilhas controlava e não consentia veleidades aos homens de Belém. O Belenenses, de livre, tentou assustar Samu, mas o guardião maritimista não vacilou e agarrou sem dificuldade. O Belenenses, porém, continuava em busca de reentrar no jogo. No 8º minuto de compensação, valeu a entreajuda da defensiva verde-rubra a evitar o golo dos caseiros. E o golo aconteceu. Pedro Carvalho, o melhor homem do Belenenses na segunda parte, infiltrou-se pela direita e fuzilou as redes de Samu. Grande trabalho do lateral a superar Vítor Costa e a bater, sem dó, o guardião verde-rubro.
Sofrimento evitável de um Marítimo que poderia ter goleado e acabou com algum receio, quando Gonçalo Neves assinalou falta que levou toda a equipa do Restelo para a área de Samu. Concentração máxima, perigo afastado.
Vitória do Marítimo junto ao Padrão dos Descobrimentos. Agora, com o espírito da ínclita geração e dos Marítimos que nos animam a alma, é continuar a navegar para redescobrir o caminho até casa.
Nas bancadas, os peregrinos do Marítimo ajustavam as coordenadas da romaria: É PRA PRIMEIRA.
Obrigado, Maritimistas. Obrigado, Leões do Almirante Reis.