Há quantos anos o Caldeirão ansiava por um jogo que significasse mais do que o mero alívio da manutenção? Hoje, frente ao Vitória SC, revivemos tempos em que “dont look up” era só profecia sobre um filme de Hollywood. Vasco Seabra promoveu duas alterações no “onze”. Joel e Diogo Mendes regressaram aos titulares, rendendo Alipour e Rossi.
Hugo Silva apitou para o início da partida e foi Joel, no regresso ao “onze”, quem fez a bola rolar num Caldeirão pleno de paixão. Entrada mais expectante do Marítimo, com o Vitória a deter mais posse nos primeiros 5 minutos, prenúncio do que seria a contenda. O primeiro remate, de longe e forte, testou Paulo Victor. Seguro, o guardão correspondeu sem dificuldades num “tiro” que saiu à figura do brasileiro. A primeira paragem no encontro deveu-se a um lance dividido entre o avançado vimaranense Estupiñan e Matheus Costa, com o central a necessitar de assistência. Nada que impedisse a continuidade do homem que marcou o golo da nossa vitória em Moreira de Cónegos.
Aos 13 minutos, uma falta sobre Diogo Mendes poderia ter levado perigo à área forasteira, mas Xadas cruzou com demasiada força e o esférico perdeu-se pela linha de fundo. O Marítimo demonstrava a vontade de assumir as rédeas, como mandam as regras tácitas do Caldeirão, hoje contrariadas pelo Vitória. Alfa Semedo voltou a alvejar a nossa baliza, com Paulo Victor, uma vez mais, a segurar sem problemas. Aos 18 minutos, as hostes vimaranenses festejaram, mas Estupiñan encontrava-se em fora-de-jogo. Para o registo, uma ameaça mais contundente da equipa comandada por Pepa. Aos 23 minutos, um mau passe de Matheus Costa na intermediária proporcionou ao visitante uma rápida incursão pela esquerda, aproveitando a subida de Wicnk. Após o cruzamento, Rúben Lameiras surgiu sem oposição na área, mas cabeceou a rasar o poste esquerdo. O Vitória voltava a deixar avisos de agitação marítima no nosso último reduto.
Paulo Victor, aos 27 minutos, foi obrigado a nova intervenção, desta vez mais exigente. Cruzamento traiçoeiro da esquerda, com o avançado vimaranense a não tocar no esférico, num daqueles lances em que os guarda-redes são, tantas vezes, iludidos. Muito atento, Paulo Victor desviou. Após meia-hora de jogo, o Marítimo revelava dificuldades para ligar o seu jogo, perante um adversário que pressionava na saída e fechava possíveis linhas de passe.
A primeira real ameaça do Marítimo aconteceu aos 31 minutos. Lançado em profundidade, Joel ganhou na velocidade e, já sem muito ângulo, atirou para uma defesa difícil de Varela. O lance empolgou o Maior das Ilhas. Logo a seguir, Winck ganhou metros na direita, chutou cruzado e Varela defendeu para a frente. Xadas, por pouco, não aproveitou os despojos do perigo. Na resposta, novo remate viperino dos visitantes. A primeira parte aproximava-se do fim com mais Vitória, perante um Marítimo que falhava muitos passes nas zonas nevrálgicas, para além de dificuldades na activação dos seus sectores adiantados. Mérito para o Vitória que trouxe a lição bem estudada, vigiando de perto Rafik, Xadas e Beltrame. A presença forte nas laterais também condicionava Winck e Vítor Costa, muito menos propensos às subidas. Já em tempo de compensação, Rakif foi derrubado no flanco direito. Beltrame procurou Matheus Costa ao segundo poste, com o central a ganhar o duelo. Varela hesitou, mas nenhum jogador insular apareceu para o desvio da felicidade. Hugo Silva decretou repouso, após 45 minutos de um Vitória com relativa supremacia.
As equipas regressam ao relvado sem alterações, mas os primeiros cinco minutos indiciavam uma toada semelhante à primeira-parte. Um Vitória pressionante, com os verde-rubros pouco precisos no passe, o que permitiu aos visitantes algumas jogadas que atemorizaram o Caldeirão. Numa delas, Paulo Victor voltou a suster um remate frontal. Seabra mexeu de imediato. Saíram Xadas e Joel, rendidos por Edgar Costa e Alipour. O técnico dos insulares tentava incutir maior dinâmica na frente e consistência no centro, com a experiência do capitão. E raça. Logo na sua primeira intervenção, e após sofrer falta, um desaguisado rendeu ao madeirense um amarelo, o mesmo acontecendo ao vimaranense. Aos 58, Vítor Costa encontrou Rafik na área. O francês parou no peito e, quando se preparava para fuzilar Varela, apareceu o corte. O Caldeirão rugia e não arrefeceu quando um remate fortíssimo levou a bola a embater com estrondo no poste esquerdo da baliza verde-rubra. No entanto, o Vitória continuava a carregar. Após um belo lance individual, André Almeida disparou e ressaltos obrigaram Paulo Victor a aplicar-se para evitar males maiores.
O Caldeirão galvanizou-se após um lance pela esquerda, com Vidigal a esgueirar-se e a conquistar canto. Na sequência, a bola esteve a saltitar na linha de golo, depois de um desvio de Rafik. Os reflexos de Varela, no chão, impediram os festejos dos Maritimistas. Nesta fase da partida, Edgar Costa assumia a batuta no meio-campo madeirense, revelando o Marítimo outra disponibilidade para ferir a linha defensiva forasteira. Entretanto, Pelágio substituiu Beltrame. Estava esgotado o italiano. Restavam 15 minutos para o fim.
O ataque do Marítimo, com o aprumo técnico de Edgar Costa, carburava melhor. Pelo corredor esquerdo, a melhor combinação do ataque maritimista juntou Edgar, Vítor Costa e Vidigal, mas o cruzamento foi interceptado quando Alipour já se posicionava para a finalização. Logo depois, Vidigal apareceu isoladíssimo perante Varela. Já se gritava golo, mas o extremo atirou por cima. O Vitória respondeu com outro remate temível para defesa segura de Paulo Victor. Tantas ameaças resultaram nos festejos vimaranenses. Defesa verde-rubra pouco lesta a afastar o esférico e Nicolas não esteve com cerimónias, atirando a contar. Indefensável o disparo do vimaranense. Do lado oposto, os Fanatics, os Templários e o Esquadrão reagiram, de imediato, com incentivos. Incansáveis, não obstante a amargura.
Vasco Seabra lançou Henrique Rafael e Clésio para os derradeiros 5 minutos. Saíram Cláudio Winck e Rafik Guitane. Muito coração, mas já pouco discernimento. Frustração no Caldeirão, mas justo o triunfo da equipa vimaranense que, assim, se isola no 6º lugar. Apesar da derrota, o Caldeirão saudou a equipa comandada por Vasco Seabra, que se aproximou da bancada ocupada pelos Fanatics, Templários e Esquadrão Maritimista para uma merecida ovação. Os Maritimistas sabem que esta derrota, perante um adversário de grande qualidade, não apaga a grande recuperação da equipa. Voltaremos a ser felizes.
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